sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Avô António


O meu avô foi operado, fez um transplante de côrnea. Assim, o Xani ontem esperou por mim no carro do pai à porta do hospital Egas Moniz enquanto eu fui visitar o meu avô. Ele não percebeu bem porque não podia vê-lo, apenas lhe dissemos que o vôvô estava com doi doi no olho mas que ia ficar bom, e que como estava a descansar ele não o podia ver.
Todos os dias ao acordar o Alexandre pede o seu leitinho, hoje foi um dia diferente, acordou e perguntou-me:
- "O vôvô já está melhor?"

...

" A minha mãe olhava-me, e eu soube que a minha mãe me tinha olhado assim quando me vira pela primeira vez. Acabado de sair de dentro dela , foi com aqueles olhos que a minha mãe me viu. Ainda vermelho de sangue a cobrir-me a pele, sangue ainda vivo, eu pequeno, nos braços da minha mãe, e aqueles olhos verdadeiros a verem-me completamente. Eu pequeno, e aqueles olhos a saberem tudo sobre mim. Eu acabado de nascer, e aqueles olhos a que pertencerei sempre porque a eles pertenço desde o inicio. E ali, no quarto que naquele instante era o único quarto do mundo, os olhos da minha mãe reflectiam os meus olhos. Eu via a minha mãe a ver-me a vê-la. Éramos dois espelhos virados um para o outro. Éramos, cada um de nós, um espelho que reflectia o espaço infinito do interior de outro espelho. Entre nós não havia distânciaporque éramos atravessados um pelo outro. Fazíamos parte de um lugar infinito que era igual em cada um de nós. Não éramos fronteiras dentro desse lugar, porque esse lugar não tinha fronteiras. Esse lugar era infinito. Esse lugar era o amor nos nossos olhos."
Uma casa na escuridão
José Luís Peixoto

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Problemas de peso

No fim de semana, foi à minha casa de banho, puxou a balança para perto dele, empoleirou-se e disse: "Acho que peso 12 kilos, ou se calhar já são 13"

Eu na minha ignorância ainda não consegui perceber em concreto quanto ele pesa, ora pesa 13 ora pesa 15, estou a aguardar pela consulta do mês que vem, mas aparentemente ele é ainda mais à frente que eu e já prevê com facilidade ao olhar para os números da balança que ele não conhece, as dúvidas que assolam a mamã quando o tenta pesar.

Esponjinha!

terça-feira, 26 de maio de 2009

As músicas que ele canta (1)

De olhos vermelhos e pêlo branquinho
Dou saltos bem altos, eu sou um coelhinho.
Dou saltos pr'a frente, dou saltos pr'a trás
Eu sou um coelhinho que de tudo sou capaz.
Comi uma cenoura com casca e tudo
Ela era tão grande que eu fiquei um barrigudo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cedi

Esta noite falhei.

Não sei se o facto de ele ter dito que tinha um monstro no chão do quarto dele é suficiente para me desculpar, ou até o facto de estar todo ensopado no seu próprio suor do esforço que fazia, ou ainda se ter chorado durante umas quase duas horas é uma boa desculpa para ter cedido à manipulação dele e o ter ido buscar para dormir na nossa cama.

Ou talvez tenha sido porque a última vez que ele acordou na nossa cama eu abri a pestana com umas festinhas tropegas na cara enquanto ele me dizia "querida, és linda. Vai fazer o meu leitinho."

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Palmadinhas de amor


De vez em quando agarra-se muito a mim, quer colo, quer mimo, quer atenção, quer brincadeira, quer-me perto dele e só para ele, o meu rapazinho.
Se lhe digo que ele é mau porque fez asneira, nem se preocupa, agora se lhe digo que é feio, reclama, diz que não que até pode ser mau mas que nunca será feio, porque é lindo, pelo menos é o que lhe ando a dizer desde que ele nasceu, e ele sabe que mãe que é mãe não mente.
Nos últimos dias tem andado a experimentar, a testar, a medir forças para ver quem quebra ou dobra, se ele, se nós. O meu coração fica apertadinho de cada vez que ele chora porque eu lhe falei de uma forma mais dura, ou porque o contrariei e lhe disse não - palavra que ele não gosta de ouvir, mas que utiliza sem grande parcimónia, ou porque ficou de castigo, mas tento que ele não perceba o efeito que tem em mim aquela carinha chorona, porque há que fazer o mea culpa em termos de manipulação é igualzinho à mãe, sabe exactamente que cordelinhos mexer.
Todavia não posso permitir que ele me contrarie ou que me faça cenas como as que fez no dia em que me mordeu, ele tem de perceber perfeitamente quem manda e obedecer, ainda que não perceba muito bem porquê. Eu juro que tento, explico-lhe sempre porque está de castigo, o que fez de errado e o que fazer (ou não) para não ter de passar pelo mesmo processo: vai para o quarto, senta-se no banquinho e fica lá a pensar no que acabou de fazer - um castigo bastante suportável até - depois diz-me que já acalmou e lá vou eu tentar chamá-lo à razão, mas ele é ainda muito pequenino para perceber sem margem para dúvidas onde é que errou, mas diz sempre que não volta a fazer.
A questão das palmadas, dos pontapés e das dentadas é naturalmente uma preocupação minha, não quero que aconteça em casa com a família como também não quero que aconteça na rua com outras pessoas ou os amiguinhos da escola, por isso insisto tanto nesse aspecto, tanto que ontem ele estava ao meu colo e dava-me palmadas no ombro, sem razão aparente, nem sequer estávamos a conversar, mas o meu radar piscou e fez barulhos por todos os poros, olhei para ele com um olhar feroz (se é que sou capaz de fazê-lo) e perguntei-lhe o que estava ele a fazer no meu ombro.

- "São palmadinhas de amor mamã." - Ora tal e qual como ele faz à cadela!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Miminho


Ontem desde que cheguei a casa até que me deitei estive sempre na cozinha, a cortar, a lavar, a cozinhar, a arrumar, enfim, a fazer todas aquelas coisas que as mães fazem, a sopa do rapazinho, o jantar da familia, o meu almoço do dia seguinte.
Estava muito atarefada nas minhas lides domésticas enquanto que o pirralhito se entretinha no quarto a brincar com os brinquedos dele, entretanto cansou-se e pedi-me que lhe acendesse a televisão, que ele queria ver o Panda, e queria também o comando, para poder pôr no canal certo (o comando da televisão esse grande bastião da masculinidade, mesmo aos 2.5 anos).
O Panda também não lhe enche as medidas, se não estiverem a cantar os parabéns, a mostrar bichos, se o Panda não estiver a fazer palhaçadas ou os desenhos animados forem "os irmãos koala" ou o "Noddy" ele os outros bonecos diz que são maus, (por enquanto, a violência para ele fica-se pelas palmadas que dá à Margarida porque ela lhe roubou um boneco ou às dentadas que dá a mãe porque ela o quer levar para casa.)
Veio ter comigo à cozinha e pediu-me para ir com ele brincar com os cubos na sala - ele tem 5 cubos de pano, nos quais anda a aprender a contar de 1 a 5 e a identificar as letras do A ao E - como lhe disse que não podia foi buscar o banquinho dele, subiu para a cadeira onde faz as refeições, prendeu-se com as fitas e ficou a olhar para mim. Eu disse-lhe que o jantar ainda não estava pronto que ia demorar, para ele sair dali e ir brincar com as suas coisas, ms ele não me deu ouvidos, disse apenas:
- "Não, vou ficar aqui a dar-te um miminho"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O leite foi hoje bebido pela primeira vez em caneca. Já bebia a água e o sumo por copo, mas o leite da manhã continuava a ter um ritual de bebé, hoje decidi que ele já não é mais um bebé, aceitei sem grandes dificuldades que um "rapazinho" não pode mais beber leite em biberon e vai daí toma lá a caneca para te sentires homem!
O facto de ontem ele ter conseguido abotoar-me os botões do roupão também facilitou a transição daquilo que eu já tinha dito há dias: o meu bebé é um rapazinho crescido e tem de ser tratado como tal.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A minha primeira desilusão

Afinal as dores do crescimento são bem mais lancinantes do que eu poderia imaginar, ontem o Alexandre deu-me a minha primeira desilusão.
O nosso ritual costuma ser chegar a casa depois da escola pegar na Puska e ir passeá-la, ficamos na praceta e esperamos que a Madalena apareça. A Madalena vive a nossa praceta e até há 1 mês atrás estava na mesma creche e na mesma sala que o Alexandre. As saudades resultantes deste afastamento têm sido colmatadas com encontros fortuitos ao final da tarde, iniciados quase sempre por abraços sentidos e terminadas com beijinhos de até amanhã.
Ontem como estava fresco e a Madalena já estava em casa quando nos cruzámos com a mãe dela esta sugeriu que o Alexandre fosse brincar um pouco com a menina em casa dela, enquanto eu passeava tranquilamente a Puska. Depois de ter levado a cadela novamente para casa fui buscar o Alexandre que me saudou à porta dizendo: “Eu vou fazer-te um cafezinho, anda dá-me a mão.” E lá me levou ele pela mão até ao quarto da Madalena.
Quando chegou a hora de irmos embora, que ainda havia muito para fazer pois tínhamos de tomar banho, fazer jantar e preparar para dormir, o Alexandre começou a chorar, o que não é propriamente uma novidade para mim, pois bem sei que quando contrariado costuma revelar o seu descontentamento com uma sonora birra. Mas a birra de ontem foi diferente, apossou-se dele uma violência que lhe desconhecia, bateu-me. Com as mãos, com os pés, conforme podia e onde chegava tendo inclusivamente deixado uma grande marca da dentada que me deu no braço.
Partiu-me o coração, deixou-mo em cacos tão pequeninos que ainda hoje estou a tentar colá-los.
Não reconheci o meu menino meigo, de sorriso fácil e trato dócil. Não reconheci aquele que se prostrou a meus pés, vermelho de raiva enquanto grossas lágrimas lhe escorriam pela face. Não reconheci naquelas palmadas de mão aberta, nem nos pontapés que desferia, o meu bebé.
Não consigo sequer compreender o que se passou, não vive num ambiente onde possa sequer imaginar tal violência, não houve alteração nos nossos comportamentos, e não quero acreditar que o crescimento passe também por aqui.
Hoje dói-me a alma, porque além de tudo o que ele fez me obrigou a dar-lhe duas palmadas e a pô-lo de castigo, ficou no quarto, em pé na cama de grades a chorar pedindo desculpa, dizendo que não voltaria a fazer, chamando por mim, enquanto eu tentava pegar nos cacos espezinhados no chão do que restava do meu coração.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pára tudo!!

Não percebo como é possível que tenham passado 2 anos e meio desde que o meu bebé se intrometeu na minha vidinha.
Não é possível a velocidade vertiginosa a que ele cresce.
Acho que estou nostálgica de quando o agarrava durante horas e horas e não era empurrada, lhe dava os beijinhos que bem entendia sem que ele me fugisse, lhe fazia festinhas sem ouvir “já chega, não quero mais”.
Nos últimos 2 anos e meio o furação Alexandre alterou em tudo aquilo que eu conhecia como sendo, “a minha vida”, hoje já pouco me lembro de como era antes de ele ter nascido. Não trocava por nada deste mundo toda a felicidade e ansiedade que ele trouxe para o meio de nós, nem tão pouco trocava as noites mal passadas entre fraldas, cólicas ou pesadelos por noites em branco numa discoteca qualquer.
De cada vez que fico sem ele, é como se um pouco de mim ficasse preso num qualquer beco escuro, apenas aguardando a hora de o ver para sair do beco e abraçar o sol.
Todos os dias me questiono, como é possível que um niquinho de gente me tenha transformado numa verdadeira crente, pois acredito que ele é o meu milagre.
Tenho saudades dele pequenino, indefeso, completamente dependente de mim, soa a egoísmo eu sei, mas talvez seja esta a forma que a natureza encontrou de me dizer que está a chegar a hora de “encomendar” o próximo. Até lá vou aproveitar cada momento do meu pirralhito de 90cm, é que nestes 2 anos e meio ele já se desprendeu do cordão umbilical e eu tenho todos os dias de aprender a soltá-lo um pouco mais, porque já não quer os meus milhões de beijos dizendo “mas já recebi 2 beijinhos”, porque já não precisa do meu colo “eu consigo andar sozinho”; porque já me sabe rabear depois de me dar um tapa no ombro zangado por eu não o deixar ir brincar e dizer “era só uma festinha”; porque já não o consigo ter só para mim pois “eu vou só ali buscar uma coisa, não fica triste”.

Pára tudo!! Pára o relógio, pára o tempo, pára a vida, só para que eu possa ter o meu bebé, bebé por mais tempo. Não posso? O tempo não dá para parar, o relógio por mais que se atrase não espelha o ritmo da vida e o bebé já não é bebé, é como ele próprio diz, um rapazinho, um rapazinho que não pára de crescer e de fazer a minha vida um mar de alegrias, tristezas, incertezas, seguranças, e muita, muita magia, sem a qual não sei mais viver.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Avaliação de Desempenho

Transcrição das avaliações efectuadas pela educadora do Alexandre
"Avaliação dos meses de Setembro e Outubro
Olá papás!
Já estou na sala amarela.
A minha adaptação foi boa, correu muito bem e aconteceram muitas coisas boas.
Já não uso fralda durante o dia nem para dormir. De vez em quando lá me descuido e lá fica umas cuecas e umas calças molhadas mas é poucas vezes.
E já faço o xixi de pé como os homens.
A última novidade é que já me calço sozinho, mesmo sem a ajuda das tias.
As tias só acham que eu falo muito, mas eu não consigo controlar.

A MINHA ALTURA = 84 CM

Avaliação dos meses de Novembro e Dezembro
Já se passou mais dois meses e cá continuamos sempre a crescer e a aprender.
O Alexandre é um menino muito interessado nos trabalhos da escola quer sempre saber o que se vai fazer. E gosta de fazer os trabalhos.
Gosta de chamar a atenção e por vezes mete-se nas “conversas” se não são com ele.
Já controla muito bem o xixi, tanto de dia como durante a sesta.
Continua muito falador, mas penso que é uma coisa já dele.
Andou uns tempos muito teimoso mas noto que melhorou muito.

Avaliação dos meses de Janeiro e Fevereiro
E aqui estamos nós quase na Primavera.
O Alexandre está muito crescido e muito curioso.
Gosta sempre de saber tudo e muito conversador.
Ultimamente anda um pouco agressivo para os amigos, mas é uma fase por onde todas as crianças passam.
A teimosia continua com ele, uns dias melhores outros piores.
Quando é chamado à atenção ou quando é posto de castigo chora sem lágrimas para ver se convence alguém.
Ao mesmo tempo é muito meiguinho e gosta muito de miminhos.

Avaliação dos meses de Março e Abril
O Alexandre é um menino esperto. Aprende com facilidade. Já sabe as cores e outras coisas.
É um pouco traquinas e gosta muito de chamar a atenção. Ele próprio por vezes faz disparates para ser visto.
Entra muito nas brincadeiras com os colegas e diverte-se imenso.
É um menino que come muito bem.
Continua muito teimoso e muito falador. Quando acorda mais cedo tenta sempre ver se consegue ter alguém para falar.

A MINHA ALTURA = 89 CM "

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Eh pá!


Há dias iamos os dois no carro, eu a conduzir e ele a brincar com um balão no banco de trás, quando de repente lhe foge o balão e ele me diz: -"Mamã, mamã, apanha o balão"

Como não tenho olhos na cabeça disse-lhe que não podia apanhar porque estava a conduzir, e que nem sabia onde ele estava.

Ele vira-se muito rápido:- "Está aí à tua esquerda"

Eu virei-me e com o ar mais espantado que consegui e perguntei-lhe: -" Mas tu sabes qual é a esquerda?"

E ele conseguiu dizer correctamente qual era a mão esquerda e depois a mão direita. Eu devo ter dito qualquer coisa como: "Eh pá mas tu sabes distinguir a esquerda da direita, tu és fantástico puto."

Ele franziu o sobrolho, fez um ar muito sabido e observou com grande sapiência: -"Não se diz eh pá."

Confesso que cada dia que passa me sinto mais orgulhosa do filho que tenho! É lindo, maravilhoso, fantástico, um espectáculo e ainda inteligente.

Sou mesmo boa mãe eu!! HEHE