sexta-feira, 29 de maio de 2009

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" A minha mãe olhava-me, e eu soube que a minha mãe me tinha olhado assim quando me vira pela primeira vez. Acabado de sair de dentro dela , foi com aqueles olhos que a minha mãe me viu. Ainda vermelho de sangue a cobrir-me a pele, sangue ainda vivo, eu pequeno, nos braços da minha mãe, e aqueles olhos verdadeiros a verem-me completamente. Eu pequeno, e aqueles olhos a saberem tudo sobre mim. Eu acabado de nascer, e aqueles olhos a que pertencerei sempre porque a eles pertenço desde o inicio. E ali, no quarto que naquele instante era o único quarto do mundo, os olhos da minha mãe reflectiam os meus olhos. Eu via a minha mãe a ver-me a vê-la. Éramos dois espelhos virados um para o outro. Éramos, cada um de nós, um espelho que reflectia o espaço infinito do interior de outro espelho. Entre nós não havia distânciaporque éramos atravessados um pelo outro. Fazíamos parte de um lugar infinito que era igual em cada um de nós. Não éramos fronteiras dentro desse lugar, porque esse lugar não tinha fronteiras. Esse lugar era infinito. Esse lugar era o amor nos nossos olhos."
Uma casa na escuridão
José Luís Peixoto

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