quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Morte

A morte é para o Alexandre o desconhecido, sabe que existe, ouve a palavra, brinca com ela com o desprendimento de quem nunca passou pela dolorosa experiência de perder alguém.

Sexta feira o avô do meu marido faleceu, o bisa que o Xani tanto gostava nunca mais vai fazer parte da sua vida.

Passou o fim de semana na minha mãe para o protegermos do mundo, falámos eu e o pai de o preparar com amor e carinho para a perda, a dor, embora com a certeza de que não seria capaz de entender, pois a experiência dizia-nos que o desapego perante a palavra era total.

Domingo à noite, no aconchego da cama falámos-lhe com o coração nas mãos dissemos que o bisa tinha tido um doí doí grande e que tinha ido para o céu, a resposta foi cruel:

-"Foi para o cemitério. Agora vai andar assim" - e curvou-se sobre si mesmo.

Continuamos a falar-lhe e explicámos que o avô tinha ido para o céu e que não voltava, que seria para sempre uma estrela na vida dele e que o iria guiar, ser o seu anjo da guarda.

Nesse momento a cara dele fechou-se, e desatou num pranto, dizendo que queria o bisa por perto, que no domingo anterior tinha estado a comer castanhas com ele e que se tinha esquecido de lhe desejar as melhoras na altura da saída, e que o queria na casa dele de sempre, que não precisava dele no céu mas por perto.

Chorou durante uma hora, e quando acalmou disse que ia dormir muito triste, nem durante a noite se esqueceu, pois acordou a dizer que estava a acordar muito triste e que tinha saudades do avô.

Disse também que ia fazer um desenho só para o bisa e que o atiraria ao céu para ir ter com ele.

Por vezes, e exactamente nas alturas em que menos esperamos e nas que desejamos que não aconteça, as crianças surpreendem e entendem bem demais o que lhes queremos explicar.