sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tenho-me em ti

Tenho-me em ti de cada vez que te olho, o contorno do nariz, o brilho nos olhos e o magnifico sorriso que nos caracteriza aos dois.
De vez em quando olho-te enquanto dormes e a tua serenidade traz-me paz, apazigua-me o espírito. Nunca soube o que procurava até te ter encontrado, agora é-me tão claro.

Tenho-me em ti quando te vejo a andar "de taxi" de um lado para o outro, montado no teu triciclo vermelho em forma de joaninha que me traz à lembrança as corridas no meu próprio triciclo azul imitando uma bicicleta de 4 pernas. A casa da bábá zé era bem mais pequena que aquela onde tu brincas hoje, mas a velocidade com que contornava os obstáculos sem riscar móveis, nem fazer mossa nas paredes é igual à mestria com que te moves entre o teu quarto, o corredor, o hall e a sala, sem tropeçares no vaso gigante que teimosamente deixa tombar as folhas frondosas de uma planta artificial.

Tenho-me em ti quando te penduras em uma qualquer trave que encontras no elevador ou num corrimão displicente, tornando-os imediatamente num espaldar imaginário, que serve para te tonificar os músculos dos braços e esticar, como quando eu ia à padaria do senhor zé, fazer os recados que a babá zé me pedia. A padaria tinha uma grade de cerca de 2 metros de altura, com duas portas de entrada, uma para a zona dos fregueses, outra atrás do balcão onde todos os dias me esperava um sorridente senhor zé. As portas da grade fechavam às 6 da tarde, deixando livre um corredor que desembocava na porta onde por detrás se avizinhava um mundo misterioso para mim, que mais tarde cheguei a visitar e onde se misturavam a farinha, a água, o fermento e o cheiro inconfundível do pão acabado de fazer. A grade terminava numa trave, onde todos os dias o senhor zé me ajudava a pendurar, e baloiçava-me como se estivesse ao sabor do vento num galho de árvore. Hoje a padaria está fechada, dizem que a empresa que a explorava faliu, a rua deixou de cheirar a pão quente e o senhor zé há muito que nos deixou, nunca ninguém utilizou o espaço desde que encerraram a loja.

Pequenas coisas que cruzam gerações, e que me fazem sorrir de cada vez que as vejo em ti, remetendo-me para o meu passado, afinal não tão longínquo quanto parece, numa forma tão especial de nos estreitar.
Como posso eu dizer-te para não andares tão depressa no triciclo, ou para não te pendurares nas traves com que te cruzas, quando bem sei o prazer que me dava fazê-lo, contrariar-te a ti, não será o mesmo que contrariar a minha própria natureza?

4 comentários:

Pedro disse...

corro como tu corres, corro como tu corrias, corro como tu, mãe, com vida!
gosto de ti mãe

foi o Xani que me disse para te dizer

Gata2000 disse...

Pedro - Obrigado Pedro por teres traduzido em palavras aquilo que eu tão bem reconheço nos olhos do Xani.

Maria disse...

Filho és,pai serás, assim como fizeres, assim o terás :) Esta frase da minha avó faz todo o sentido neste teu poema. Sim porque é um poema de amor. :)

beijinho para os dois

Gata2000 disse...

WAI - claro que é um poema de amor!
Beijos para ti tb boneca