terça-feira, 12 de maio de 2009

A minha primeira desilusão

Afinal as dores do crescimento são bem mais lancinantes do que eu poderia imaginar, ontem o Alexandre deu-me a minha primeira desilusão.
O nosso ritual costuma ser chegar a casa depois da escola pegar na Puska e ir passeá-la, ficamos na praceta e esperamos que a Madalena apareça. A Madalena vive a nossa praceta e até há 1 mês atrás estava na mesma creche e na mesma sala que o Alexandre. As saudades resultantes deste afastamento têm sido colmatadas com encontros fortuitos ao final da tarde, iniciados quase sempre por abraços sentidos e terminadas com beijinhos de até amanhã.
Ontem como estava fresco e a Madalena já estava em casa quando nos cruzámos com a mãe dela esta sugeriu que o Alexandre fosse brincar um pouco com a menina em casa dela, enquanto eu passeava tranquilamente a Puska. Depois de ter levado a cadela novamente para casa fui buscar o Alexandre que me saudou à porta dizendo: “Eu vou fazer-te um cafezinho, anda dá-me a mão.” E lá me levou ele pela mão até ao quarto da Madalena.
Quando chegou a hora de irmos embora, que ainda havia muito para fazer pois tínhamos de tomar banho, fazer jantar e preparar para dormir, o Alexandre começou a chorar, o que não é propriamente uma novidade para mim, pois bem sei que quando contrariado costuma revelar o seu descontentamento com uma sonora birra. Mas a birra de ontem foi diferente, apossou-se dele uma violência que lhe desconhecia, bateu-me. Com as mãos, com os pés, conforme podia e onde chegava tendo inclusivamente deixado uma grande marca da dentada que me deu no braço.
Partiu-me o coração, deixou-mo em cacos tão pequeninos que ainda hoje estou a tentar colá-los.
Não reconheci o meu menino meigo, de sorriso fácil e trato dócil. Não reconheci aquele que se prostrou a meus pés, vermelho de raiva enquanto grossas lágrimas lhe escorriam pela face. Não reconheci naquelas palmadas de mão aberta, nem nos pontapés que desferia, o meu bebé.
Não consigo sequer compreender o que se passou, não vive num ambiente onde possa sequer imaginar tal violência, não houve alteração nos nossos comportamentos, e não quero acreditar que o crescimento passe também por aqui.
Hoje dói-me a alma, porque além de tudo o que ele fez me obrigou a dar-lhe duas palmadas e a pô-lo de castigo, ficou no quarto, em pé na cama de grades a chorar pedindo desculpa, dizendo que não voltaria a fazer, chamando por mim, enquanto eu tentava pegar nos cacos espezinhados no chão do que restava do meu coração.

4 comentários:

Maria disse...

Tudo faz parte...e o Xani está também ele em aprendizagem. beijinhos nos dois

Goldfish disse...

Só quem passa deve saber o que dói. Da parte de quem nunca o viveu, posso pelo menos dizer que fiquei com o coração apertado pelas tuas palavras.

Gata2000 disse...

WAI - Sim é uma fase, já sei. Ainda assim custou um bocadinho.

Gata2000 disse...

Goldfish - Mas ele anda a esforçar-se por me fazer esquecer. :)